Acompanhante na UTI Adulto: experiência da participação da família em grupo de apoio - Hospital Geral de Itapecerica da Serra
ACOMPANHANTE NA UTI ADULTO: EXPERIÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA EM GRUPO DE APOIO
Hospital Geral de Itapecerica da Serra - HGIS
DRS I - Grande São Paulo
Introdução
O adoecimento e a hospitalização representam rupturas no cotidiano familiar. Os indivíduos envolvidos nesse processo deixam de trabalhar, rompem vínculos com outros familiares e amigos e abandonam muitas atividades habituais. Instaura-se uma crise marcada por ansiedade e estresse. A hospitalização tem sido fator desencadeante de estresse, capaz de gerar alterações físicas e psíquicas, tanto para o paciente quanto para seus familiares. A participação da família é essencial dentro da UTI, apesar de não ser uma realidade concreta nas instituições no mundo. Desde a inauguração em 1999, o HGIS tem o atendimento humanizado como diretriz institucional e como embasamento para a implementação de ações e iniciativas, as Políticas Nacional - PNH (2003) e Estadual – PEH (2012) de Humanização. Em sua trajetória, visando à melhoria da qualidade e o aprimoramento do processo de cuidado, o HGIS também adotou modelos de acreditação externa, tendo conquistado a Acreditação com Excelência pela Organização Nacional de Acreditação em 2009 e a Acreditação Internacional Joint Comission International em 2012, que trouxe as melhorias de processos entre eles as metas de cuidados e ações visando a participação do usuário no processo de cuidado. Uma dessas ações inclui a valorização e a abertura para o encontro entre profissional de saúde, o usuário e sua rede social, que está relacionada ao modelo diferenciado que o HGIS adotou a partir da visita aberta e direito a acompanhante a todos os pacientes internados, inclusive nas unidades de terapia intensiva. A presença do familiar em período integral em ambiente de terapia intensiva representa um avanço para as relações entre os usuários e o hospital. Entretanto, a inserção do familiar deve ser seguida de um projeto terapêutico de integração do cuidado, tendo em vista a valorização da participação do usuário e seu familiar no processo de tratamento do paciente.
Objetivo
Descrever a participação do acompanhante no processo de cuidado do paciente de terapia intensiva e a inserção deste utilizando grupo de apoio.
Metodologia
O acolhimento aos familiares na unidade de terapia intensiva teve início em fevereiro de 2006, idealizado pela equipe multiprofissional, que ressaltava a importância da participação dos familiares no processo de hospitalização do paciente. O estresse gerado pelo período de internação neste ambiente era um grande desafio, já que se manifesta com alterações psico-comportamentais (agitação psicomotora e taquidispneia, podendo levar a perdas de dispositivos como tubo endotraqueal, cateteres centrais, sondas enterais, até atraso no desmame ventilatório por necessidade de reiniciar a sedação). Inicialmente, para liberação do acompanhante, foram estabelecidos critérios técnicos, analisados por médicos e enfermeiros, para indicar os pacientes elegíveis a acompanhantes. A partir de agosto de 2009 foi possível permitir o acompanhante a todos os pacientes internados na unidade, reconhecido o direito do paciente ao acompanhante e, principalmente, a importância dos familiares na participação do processo de cuidado do paciente. Para a permanência de todos os acompanhantes, foi necessário desenvolver na equipe assistencial habilidade de comunicação, diálogo e acolhimento de diversas demandas, como também, possibilitar as oportunidades de expressão da autonomia dos pacientes e seus familiares. Os profissionais que perpassam pelo cuidado apresentam formações distintas (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas) e esse fato tanto privilegia que o paciente receba um atendimento permeado por diversos olhares, quanto desafia a equipe a construir um trabalho que favoreça a integração interdisciplinar. Durante todo o processo de internação na unidade a família é acolhida em seus questionamentos e os diálogos com os profissionais ocorrem diariamente, sem a necessidade de um detalhamento técnico, pelo contrário, uma linguagem mais acessível. Além da relação diária, a unidade desenvolveu semanalmente um grupo multidisciplinar de apoio aos familiares com inicio em abril de 2013, onde são discutidas as rotinas, os direitos (englobando o processo para a realização de procedimentos, informação em linguagem clara, estabelecimento da equipe de referência, crenças), reforço das informações do controle de infecção, sendo o grupo, uma ferramenta de apoio no que se refere à educação dos familiares na unidade.O grupo teve um total de 390 participantes no ano de 2015 e vem ganhando cada vez mais força dentro da unidade, onde as famílias entendem que aqueles profissionais se tornam uma referência durante a internação dentro da UTI.
Resultado
A satisfação em relação ao atendimento tem apresentado tendência de elevação ao longo dos anos, com maior impacto a partir de 2013 com a criação do grupo e o trabalho de estruturação do plano de cuidado e plano educacional, tendo em vista a inserção do familiar no processo de cuidado e sua participação no estabelecimento dos objetivos terapêuticos. O número de elogios reflete o engajamento da equipe, a transparência do atendimento e comunicação efetiva com a família, promovendo o acolhimento e segurança aos pacientes submetidos aos cuidados intensivos e seus familiares.
Como reflexo deste processo de cuidado, em 2012 o HGIS se tornou referência em Humanização para a Secretaria Estadual de Saúde, foi considerado uma das três melhores instituições na categoria “Internação Humanizada” - finalista nesta categoria no Prêmio Melhores Hospitais do Estado de São Paulo em 2014, e foi premiado pelo Hrim - Hospital do Rim e Hipertensão, por seu destaque no engajamento do Programa de Transplante em 2015. Este resultado deve-se a transparência do processo de cuidado, tendo em vista o entendimento da complexidade do caso e desfecho, diante da circunstância de pacientes críticos.
Conclusão
A permanência na UTI por si só, pode ser gerador de fantasias, ansiedades e temores relacionados aos pré-julgamentos da unidade, considerando as suas características peculiares, a partir do cuidado tecnicista, grande aporte tecnológico, procedimentos invasivos (tecnologia dura). A comunicação terapêutica profissional de saúde/paciente é um fator importante para a qualidade da assistência e deve ser exercido no cotidiano da Unidade de Terapia Intensiva, com o estabelecimento da terapêutica de forma inclusiva, como também, promover o processo de educação de forma continua e sistemática. A família inserida neste ambiente é um ganho para todos e se torna um parceiro durante toda estadia do paciente na unidade. O impacto é percebido por meio do processo transparente do cuidado, da confiança estabelecida diante da equipe e da satisfação do atendimento.
Referências bibliográficas
Maciel Márcia Rodrigues, Souza Mariana Fernandes de. Acompanhante de Adulto na Unidade de Terapia Intensiva: uma visão do Paciente. Acta Paul Enferm 2006.
Silva Adriane José de Souza, Souza Crissiê Gonçalves Mota, Leda Kelly Cristina da Mota, Brasileiro Marislei Espíndula. Assistência de enfermagem na UTI: Uma Abordagem Holística. Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudo de Enfermagem e Nutrição. 2010.
Renata Andrea Pietro pereira Viana, Mariana Torre. Enfermagem em terapia Intensiva, praticas integrativas. Manole 2017.
Contato
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