NÓIS CAPOTA MAIS NÃO BRECA
Durante a minha trajetória, pude contar, com a graça de Deus, com uma parceira que, com muita propriedade já discutia esse processo. Éramos desbravadores. Não fugíamos ao desafio. Onde houvesse a necessidade, lá íamos nós, com nossas ferramentas intelectuais, enfrentando sol e vento, e outras intempéries naturais, viajando quilômetros, intercalando entre ônibus, canoas e até lombo de burrico pra levar nossa contribuição.
Brincadeira. Canoas e lombo de burrico eram coisas da irmã, que sem ter concluído o ginásio, era contratada como alfabetizadora. À época era chamada de professora "leiga". Era uma desbravadora. Alcançava os bairros de mais difíceis acessos na missão de ensinar. Preparou muitas crianças para a cidadania.
Mas é do nosso Grupo que estou falando.
Lembro que, certa vez, tive que viajar em um leito de ambulância, enquanto minha parceira, comodamente alojada ao lado do motorista, olhava constantemente pela janelinha verificando se eu estava bem. E eu não estava. E ela sabia que eu não estava. Aquela situação me incomodava muito, já que sou hipertenso... a pressão subiu.
Quando chegamos ao local, minha amiga pediu logo um médico pra cuidar de mim, mas não precisei de nada disso. Bastaram alguns minutos de descanso e relaxamento, e lá estávamos nós, encarando, mas uma empreitada.
Um episódio hilário se deu em um dos nossos treinamentos pelo interior de São Paulo. A localidade era inóspita, mas a informação era que ficaríamos alojados em um hotel fazenda. Menos mal. Hotel Fazenda.
A viagem. Pensem em quilômetros e quilômetros de estrada estreita ladeada de milharais. À noite, na escuridão, o cenário era lindo... poético... .Quem assistiu ao filme "O Campo dos Sonhos" estrelado por Kevin Costner sabe do que estou falando.
Quando, enfim, chegamos, tivemos que perguntar: "Onde fica o Hotel?" O frentista do posto de gasolina disse: "Sigam em frente nesta rua e vão chegar lá".
A cidade era isso. Uma rua que sobe e uma rua que desce. Uma cidade dormitório, já que os moradores tinham empregos na municipalidade vizinha.
Chegamos ao hotel. Enorme, lindo, "Glamoroso"... De fora, parecia o "Overlook", aquele suntuoso hotel do filme "O Iluminado" estrelado pela Sheley Duval e o Jack Nicholson... Quem não assistiu, assista... é antigo, mas vale a pena.
O candango que estava na recepção era indescritível. As meninas queriam sair correndo, mas, contemporizei e consegui acalmá-las. Minha amiga descreveria melhor a sensação desse momento.
Na verdade, o Hotel estava fechado há muitos anos, e resolveram abrir as portas para nos receber... com o mínimo de infraestrutura mas, estávamos ali para levar informações, ensinamentos... o salão de eventos era enorme, bem ventilado e tinha até um palco onde colocamos os participantes para dramatizar alguns temas discutidos nos trabalhos, criatividade meus caros, pura criatividade.
Um aspecto interessante foi que nessa atividade eles tiveram o cuidado de inverter os papéis. Aqueles que ocupavam cargos de direção estavam no papel de auxiliares enquanto que auxiliares incorporavam a personagem de diretores. O trabalho foi muito interessante e proveitoso.
No salão podíamos contar também com revoadas de andorinhas que, dado o tempo de desocupação, se permitiram fazer seus ninhos no local... Com direito a utilizar a cabeça dos participantes como vaso sanitário, mas e daí... entre um voo rasante e outro, reflexão, e pode trazer bons resultados. O evento foi bom, agregou muita experiência.
Perrengues nem se fala, a hora de dormir foi trágica. Minha amiga usava um casacão que a comparava com o Batman, e que serviu de cobertor, poupando-a de afastar o frio usando aqueles cobertores ásperos.
Eu usei, aliás não tinha outro jeito. Ele me cobria e já me coçava caso algum mosquito me picasse... Eita "Campos Novos Paulista"... Cidadezinha simpática... mas era só a simpatia. Uma rua que sobe e outra que desce, e pronto. Era tudo que compunha aquela urbe.
Acreditamos que foi um bom aprendizado para ambas as partes, com diversas visões, nossa (que ministramos o curso) dos parceiros (que faziam parte das discussões), e da realidade das regiões participantes. Na verdade, as dificuldades nunca nos impediram de conduzir nossos trabalhos com responsabilidade e comprometimento, como minha amiga costuma dizer:- nóis capota mais não breca, um caminho sem volta, Recursos Humanos na veia.
Nosso compromisso com o SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE é fundamental. Contribuímos da nossa maneira, transmitindo informações, ensinamentos e porque não dizer conhecimento aqueles que têm ainda uma grande jornada pela frente é a garantia de que teremos um sistema de saúde eficiente e eficaz. O tempo passa e nós almejamos nossa aposentadoria. O nosso comprometimento, está no nosso coração, e onde quer que estejamos, vamos esperar sempre que nossos exemplos ajudem na construção de um trabalho melhor.
Nivaldo Damaceno Teixeira