Hospital estadual é porto seguro para mães bolivianas em situação irregular
O Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros mantém,
desde 2005, um projeto inédito de atenção à saúde da população
boliviana que vive em São Paulo. Por estar situada em uma região próxima
aos pólos de trabalho de estrangeiros vindos da Bolívia, a unidade
sempre foi muito procurada por essas mulheres na hora de dar à luz. A
procura é tamanha que, hoje em dia, as bolivianas representam cerca de
20% das pacientes internadas no hospital para dar a luz.
A
presença maciça deste público chamou a atenção da direção do hospital
que passou a empreender uma série de ações para capacitar a equipe para
atender melhor esse público."Quando o número de mulheres bolivianas que
procuravam o nosso hospital para dar à luz começou a aumentar,
percebemos que algo precisava ser feito para preparar a equipe e
garantir a essas mulheres o melhor atendimento possível. Passamos então a
pensar em ações que nos ajudariam a resolver os principais problemas
enfrentados na relação com essa população", afirma a diretora de apoio
técnico, Dra. Elisabete Yamada.
Uma das grandes barreiras a serem
transpostas era a questão do idioma. A grande maioria das pacientes que
chegam ao hospital não fala português. Diante disso médicos,
enfermeiros, psicólogos, voluntários e assistentes sociais passaram a
estudar o aymara, um dos três dialetos falados na Bolívia e a língua
mais comum entre as parturientes.
Outra questão que merecia
atenção era o fato de que grande parte das bolivianas que procurava o
hospital está clandestinamente no Brasil. A falta de documentação
representava um dos maiores entraves na hora de procurar um serviço de
saúde. Por estarem em situação irregular, essas mulheres evitam se expor
a qualquer custo. "O medo dessas mulheres de serem presas e deportadas é
tão grande que o acompanhamento pré-natal é coisa rara entre elas. Some
a isso a situação de risco social a que elas estão expostas e você terá
um cenário nada aconselhável para uma gravidez", diz Elisabete.
Antes,
o processo para dar entrada no pedido de regularização da situação dos
imigrantes ilegais cujos filhos nasciam no Brasil era longo e demorado.
Os pais da criança precisavam de uma carta do consulado autorizando a
retirada do bebê do hospital. Os pais pediam, então, uma declaração da
unidade de saúde com os dados do parto. Com essa declaração nas mãos
eles se encaminhavam para a Polícia Federal para dar entrada no processo
de legalização da sua situação. Só então eles recebiam um
salvo-conduto, o que impedia que eles fossem presos e deportados.
Para
resolver isso e encurtar o caminho, o hospital firmou importantes
parcerias com o consulado da Bolívia e a Pastoral do Imigrante. Agora, o
bebê sai do hospital em poucos dias e os pais já levam a declaração
contendo as informações sobre o parto, o que torna desnecessário
procurar o consulado. O contanto com a Polícia Federal ficou mais fácil
e mais rápido. O processo, que antes levava em média dois anos, hoje
demora apenas alguns meses. "Agora, ficou bem mais fácil para os
imigrantes regularizarem a sua situação junto à Polícia Federal. Ao
todo, mais de 2000 mulheres já foram beneficiadas pelas nossas ações",
declara Elisabete.
As ações do hospital em prol das pacientes
bolivianas não passaram despercebidas. Em agosto do ano passado a
unidade recebeu uma placa do Consulado da Bolívia homenageando o
hospital pelos excelentes serviços prestados ao seu povo. E essa não foi
a primeira vez que isso aconteceu. Em 2003 a equipe da maternidade já
havia sido parabenizada pela atenção dada as bolivianas.
O Hospital e Maternidade Leonor Mendes fica na Av. Celso Garcia , 2.477 - Belenzinho.