sobre febre tifóide


febre tifóide
CID10: A01.0

Descrição

Doença bacteriana aguda, de gravidade variável, distribuição mundial, relacionada a condições precárias de saneamento, sendo endêmica em muitos países em desenvolvimento, particularmente, no Subcontinente Indiano, na América do Sul, América Central e África. No Brasil, a doença é endêmica nas regiões Norte e Nordeste.

Agente Etiológico

Causada pela Salmonella typhi, subespécie enterica sorotipo Typhi (S. Typhi), que é um patógeno especificamente humano. É um bacilo Gram negativo, móvel, pertencente à família Enterobacteriaceae. Possui alta infectividade, baixa patogenicidade e alta virulência, o que explica a existência de portadores (fontes de infecção não doentes) que desempenham importante papel na manutenção e disseminação da doença na população.

Reservatório

O homem é o único reservatório. Os doentes albergam a bactéria no trato digestório e no sangue. Após a fase aguda, alguns poucos se tornam portadores e mantém a eliminação da S. typhi nas fezes.

Modo de Transmissão

A ocorrência está diretamente ligada às condições de saneamento e aos hábitos de higiene.

É transmitida principalmente através de água e alimentos contaminados. A contaminação de alimentos, geralmente, ocorre após a manipulação por portadores ou pacientes oligossintomáticos. Legumes e verduras mal lavados, frutos do mar mal cozidos ou crus, leite e derivados não pasteurizados e até produtos congelados e enlatados podem veicular a bactéria.

Período de incubação:

Entre 1 e 3 semanas.

Período de transmissão

Enquanto o bacilo estiver sendo eliminado nas fezes ou urina, da primeira semana da doença até a convalescença. Aproximadamente 10% dos doentes mantém a eliminação intermitente da bactéria até 3 meses após o início da doença e 2 a 5% transformam-se em portadores crônicos.

Suscetibilidade e resistência

A suscetibilidade é geral e maior em imunodeprimidos, idosos, ou pessoas com acloridria gástrica. A imunidade adquirida após a cura ou através da vacinação é de curta duração.

Manifestações Clínicas

O quadro clínico clássico completo é pouco frequente, de evolução gradual e consiste em febre alta (sempre presente), cefaléia, inapetência, mal estar, dissociação pulso-temperatura, hepatoesplenomegalia, roséola tífica (rara), obstipação ou diarreia e tosse seca. A principal complicação é ulceração das placas de Peyer, levando à hemorragia e às vezes até à perfuração intestinal.

Diagnóstico Diferencial

Outras infecções entéricas com febre, dor abdominal, diarreia , febre paratifóide, ou doenças que se manifestam com febre prolongada, como leptospirose, malária, toxoplasmose, endocardite bacteriana, mononucleose infecciosa, peritonites, septicemia, etc.

Diagnóstico Laboratorial

Baseia-se no isolamento e identificação da S. typhi no sangue nas 2 primeiras semanas ou nas fezes, a partir da segunda até a quinta semana. A positividade máxima na urina ocorre na terceira semana da doença, mas tem valor diagnóstico limitado. O exame mais sensível é a mielocultura, mesmo na vigência de antibióticos. No caso de portadores assintomáticos, principalmente entre manipuladores de alimentos, recomenda-se a coleta de 7 amostras de fezes em dias sequenciais. As cepas isoladas de Salmonella sp devem ser encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz-SP, Divisão de Biologia Médica - Seção de Bacteriologia para a identificação do sorotipo e caracterização bioquímica específica para a S. Typhi. O Instituto Adolfo Lutz (SP) e a Fundação Osvaldo Cruz (RJ) são os dois laboratórios, no Brasil, que realizam a caracterização sorológica de cepas de Salmonella sp.

Tratamento

Cloranfenicol é ainda a droga de primeira escolha, na dose de 50mg/kg/dia, até 4g/dia para adultos e 3g/dia para crianças. Com o desaparecimento da febre, as doses devem ser reduzidas para 2g/dia e 30mg/kg/dia respectivamente, por 21 dias. Como alternativas podem ser utilizados Ampicilina, Sulfametoxazol + Trimetroprima, Amoxacilina, Quinolonas, Ciprofloxacina, Oxifloxacina ou Ceftriaxona. Para os portadores crônicos usa-se Ampicilina ou Amoxacilina.

Ações de Vigilância Epidemiológica

A vigilância tem por objetivos reduzir a incidência e a letalidade, impedir a propagação da doença e controlar surtos.

Situação Epidemiológica no Estado

No estado de São Paulo, o coeficiente de incidência caiu vertiginosamente a partir da segunda metade da década de 70, quando atingia níveis em torno de 3 a 4 casos por 100.000 habitantes. Na última década este índice tem se mantido sempre abaixo de 0,1 casos por 100.000 habitantes.

Figura 1. Febre Tifóide - Casos confirmados autóctones e Coeficientes de Incidência por 100 mil habitantes, Estado de São Paulo, 1960-2010.

Fonte: DDTHA/CVE

Pop.: IBGE; 2010 – Pop. Censo IBGE 2010.

Definição de caso:

Suspeito- febre persistente podendo ou não ser acompanhada por um ou mais dos seguintes sintomas: cefaléia, mal estar, dissociação pulso-temperatura, hepatoesplenomegalia, roséola tífica, obstipação ou diarreia.

Confirmado por critério laboratorial- isolamento da S. tiphy ou detecção por PCR (polimerase chain reaction)

Confirmado por critério clínico-epidemiológico- quadro clínico compatível e vínculo epidemiológico com caso confirmado por critério laboratorial.

Descartado- quando não preenche os requisitos para confirmação.

Medidas de controle
- Ações de educação em saúde: higiene pessoal, preparação, manipulação e armazenamento de alimentos.

- Controle de portadores, principalmente entre manipuladores de alimentos.

- Saneamento básico.

- A vacina atualmente disponível não possui alto poder imunogênico e induz imunidade de curta duração. É indicada somente para pessoas sujeitas a exposições excepcionais, para pessoas que viajam para zonas de alta endemicidade e para recrutas. Não é indicada rotineiramente ou em massa. Há estudos mostrando que em determinadas situações epidemiológicas, em regiões altamente endêmicas, a vacina pode ser uma ferramenta auxiliar, ao lado das medidas tradicionais de implantação de saneamento básico e água tratada, na redução de casos.

Bibliografia consultada

1. DDTHA. CVE. Fluxogramas e rotinas operacionais para notificação e investigação de Febre Tifóide,
Maio 2008. Disponível em: http://www.cve.saude.sp.gov.br/htm/hidrica/hidri_ftifo.htm
2. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual Integrada de Vigilância e Controle da Febre Tifóide. Brasília:
MS; 2010.