Saúde Animal x Saúde Pública
Cuidar da saúde dos pets também é cuidar da saúde humana.
Para entender o papel da Saúde Animal no âmbito da Saúde Pública é necessário olhar para os diferentes aspectos da relação entre os animais de estimação e seus tutores. O ser humano convive com animais há muito tempo, em diferentes formas de relação. Considerando que muitas vezes essas relações geram afeto mútuo, em especial ao que se trata dos cães e gatos, é importante reconhecer a ampla presença desses animais no convívio com o ser humano. Em 2013, o IBGE apontou em sua Pesquisa Nacional de Saúde, que 44,3% dos domicílios brasileiros possuem, no mínimo, um cachorro de estimação. A mesma pesquisa também estimou que a população de cães domiciliados no Brasil era de 52,2 milhões naquele ano, e já superava a população de crianças até 14 anos nos lares brasileiros. Em relação aos gatos, 17,7% dos domicílios do país possuem pelo menos um, e 21,6% dos gatos domiciliados estão no estado de São Paulo, o Estado que, inclusive, está em primeiro lugar no ranking de concentração de cães e gatos nos lares.
Essa proximidade dos seres humanos com os animais de estimação, estabeleceu também um maior contato com as doenças infecciosas transmitidas por animais, as chamadas zoonoses. Doenças como a raiva, a leishmaniose, a leptospirose, a escabiose, a toxoplasmose e a esporotricose, podem ser transmitidas por esses animais, quando não são providenciados os devidos cuidados de saúde como a castração cirúrgica, a vacinação e desverminação periódicas, assim como as visitas ao médico-veterinário. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também reconhece a importância da preservação da saúde dos animais domésticos, visto que 60% das doenças infecciosas em humanos têm sua origem nos animais e, ao longo dos últimos 30 anos, 75% das novas doenças emergentes foram zoonoses. Por exemplo, em 2019 só no estado de São Paulo, foram registrados 90 casos de leishmaniose com 11 óbitos e 576 casos de leptospirose com 79 óbitos. Portanto, a eliminação desse tipo de doença na população humana depende, em maior parte, das medidas tomadas para prevenir essas enfermidades nos animais.
Outro grande problema de Saúde Pública é a questão dos animais abandonados, que vivem em situação de rua. O descontrole populacional de cães e gatos nas ruas pode propagar doenças graves, como a própria raiva. A OMS informa que mais de 50 mil pessoas morrem todos os anos vítimas da raiva, sobretudo em países da África e Ásia. O abandono de animais e a falta das práticas de saúde e bem-estar animal, leva à ocorrência de diversas doenças na população humana. A OMS estima que, só no Brasil, existam mais de 30 milhões de animais abandonados. Em metrópoles, suspeita-se que pelo menos 10% da população de cães esteja em situação de rua, dessa forma, a adoção de políticas públicas para a defesa dos animais domésticos torna-se uma medida de extrema importância para levar saúde e bem-estar aos animais e, por consequência, à população humana.
A Coordenadoria de Defesa e Saúde Animal (CDSA) foi criada para atuar nessa questão, realizando ações de defesa dos animais domésticos em consonância com os conceitos da Medicina Veterinária do Coletivo, com foco na prevenção de zoonoses e no manejo populacional humanitário e sustentável de cães e gatos em áreas urbanas. Com base em uma avaliação técnica, é possível definir o programa de manejo populacional que será mais adequado, estruturado sob a ótica da promoção da saúde da comunidade, do bem estar animal e do equilíbrio ambiental.